O Facebook curtiu a sua depressão

Eram 22h de uma sexta-feira e eu decidi ficar em casa, curtindo música e navegando. No mac, gosto de manter sempre aberto o Evernote, Safari, Tweetbot, Hipchat, Airmail, Skype e o Blogo. É o meu kit principal de ferramentas de trabalho e raramente, consigo usar o laptop para lazer sem dar uma “olhadinha” em como estão os negócios.

Mas depois de 10 minutos, senti que alguma coisa estava faltando: Eram as pessoas, óbvio. Com um atalho de teclado saco o browser e com 4 teclas, o auto-complete já mostra que sabe tudo de mim e mais um pouco: www.facebook.com

O que deveria ser um bate papo rápido, foi na verdade uma imersão de atualizações de amigos por mais de 45 minutos. Tempo mais do que suficiente para me fazer pensar:

Todas as pessoas estão tendo vidas mais empolgantes do que a minha. A vida de todo mundo é uma “caixa de cereal americano” ou é a minha que é “pão na chapa e café com leite” demais?

A lista de humilhações foi bem curada:

  • Pessoas conseguindo ingressos para os jogos do Brasil
  • Amigos exibindo fotos de viagens internacionais
  • Startups sendo capa da revista do mês
  • Pessoas se sentindo abençoadas pelo dia maravilhoso que tiveram

Não era a primeira vez que esse pensamento já tinha passado pela minha cabeça, mas foi a primeira vez que parei para entender, o quanto aquilo poderia de fato, estar destruindo a auto-estima de milhares de pessoas por dia.

Será o facebook um causador de depressão?

O Facebook se esforçou muito para colocar tudo que é relevante para você a um clique de distância: amigos, família, fotos que você aparece, momentos importantes de pessoas próximas, o que as pessoas que você admira estão fazendo etc.

A natureza humana ficou responsável pelo resto. Explico: nenhuma pessoa quer ouvir tristeza, derrotas e problemas de quem ela ama. Seria natural então que nós aprendêssemos a compartilhar apenas as coisas boas, afinal de contas, a cada nova postagem bacana, ganhávamos um baita reforço positivo: uma curtida. Bom garoto, bom garoto!

Fui pesquisar na web pelo termo e dos 74 milhões de resultados no Google que reforçavam a minha teoria, um deles me chamou a atenção:

Ao mostrar apenas o lado positivo da vida das pessoas que você conhece, seu cerébro imediatamente gera uma comparação com você. Olha que curioso: enquanto as pessoas estão postando alegrias, você está olhando uma tela e desejando que a sua vez de se divertir chegue logo.

A regra é clara. Mas você aceita jogar esse jogo?

Publique tudo no momento da alegria, para que as pessoas absorvam a sua felicidade. Consuma a alegria dos outros, quando você não estiver fazendo nada de relevante.

Uma combinação fatal para a sua auto estima pelo simples fato de que no dia-a-dia padrão de um ser humano existem mais coisas chatas (tarefas, trabalho, contas, disputas) do que coisas legais. Será?

Sim. Mas novamente a natureza humana entra em jogo. Uma das mais fantásticas habilidades do seu cérebro é “saber esquecer”. Predadores, raios, lutas, doenças e todos os outros medos do homem primitivo eram rapidamente esquecidas pelo seu cerébro, que se encarrega de “apagar” seus traumas da memória e de “lembrar” das coisas boas, como comer um salmão mal assado e sem sal (acredite, na época isso era um banquete!).

Ser resiliente e conseguir esquecer os traumas impulsionou a humanidade. Se não fosse assim, não sairíamos da cama após o Maracanazo de 50, por exemplo.

Lembre de um ótimo momento da sua vida. Você estava mais preocupado em aproveitar o momento ou postar no face?

Gostou do primeiro vídeo? Provávelmente irá gostar desse também.

Se você respondeu “aproveitar o momento”, parabéns. Você está injetando doses de boas memórias para o seu cérebro, ajudando ele a apagar as coisas chatas. Afinal de contas, não é muito fácil consumir facebook enquanto se está correndo, pedalando, mergulhando, indo ao estádio, assistindo filmes etc.

Se você respondeu “postar no face”, talvez seja o momento de fazer uma detox de facebook.

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Qual a sua opinião? Que tal nos encontrarmos ao vivo, para tomar um café de verdade, sem selfie e sem check-in? 🙂